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PENIDO e seu novo, possível e revolucionário desafio: fazer e mostrar que a mineração pode ser amiga, e não apenas usuária e predadora, da natureza |
Já empossado mineiramente no cargo, o novo presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), engenheiro Flávio Ottoni Penido, tem um precedente esperançoso em seu currículo. Nos idos dos anos 80, logo após a ECO/92, quando a antiga Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), hoje Vale, anunciou que iria abrir e operar a Mina do Tamanduá, colada ao Morro do Chapéu, em Nova Lima, o mundo ambientalista quase veio abaixo.
Nessa época, Penido era diretor de Desenvolvimento da MBR e
também morador no Morro, condomínio super valorizado pela sua beleza cênica e a
qualidade de vida de seus moradores. Conhecia, portanto, o projeto a fundo e o
impacto socioambiental que iria causar na região. O que ele fez do ponto de
vista ético? Pediu demissão do cargo e passou para o outro lado, liderando um
movimento não radical, mas democrático, e de “bom combate”, ao projeto original
da mineradora.
Foi um duelo de titãs. E Flávio, como interlocutor entre as
partes. De um lado, a poderosa e truculenta MBR, odiada pela população de Belo
Horizonte pelo rebaixamento, na época permitido legalmente, que ela fez do
perfil da Serra do Curral. E de outro, moradores importantes e influentes no
cenário político-empresarial mineiro, a exemplo de Luiz Aníbal de Lima
Fernandes, ex-presidente da Acesita, Luiz André Ricco Vicente, ex-presidente do
Conselho da Vale e, na época, presidente da Açominas, e Fábio Lommez,
ex-diretor jurídico da Samitri.
Primeiro resultado
Ao final do embate, ganharam todos. Antes de ser licenciada,
a MBR foi obrigada a aceitar, perante a comunidade local e os órgãos ambientais,
alterar vários pontos polêmicos do projeto original. Entre eles, a retirada de
várias e projetadas pilhas de minério que iriam impactar a visão dos moradores.
Idem, afastando a passagem das correias transportadoras de minério, e
diminuindo o ruído que iriam provocar diuturnamente.
A comunidade local ganhou mais. Uma nova e privativa via de
acesso ao condomínio que, proibida para o trânsito poluente de caminhões
transportadores de minério, encurtou em oito quilômetros a sua distância até a
capital. E mais os seguintes significativos benefícios, que compensaram as
eventuais e temporárias perdas de qualidade de vida: a expansão do campo de
golfe de nove para 18 buracos, através da recuperação de uma área degradada por
uma pequena mineração vizinha ao condomínio. A implantação de um novo sistema
de abastecimento de água e esgotamento sanitário ambientalmente correto em
todas as casas do condomínio, além de todas as garantias de manutenção da
qualidade do ar e de respeito aos níveis de ruído.
Tão logo isso foi divulgado, tanto pela mineradora quanto
pela “Comissão de frente ambientalista do Morro”, o preço do metro quadrado que
havia caído vertiginosamente quando do anúncio da nova mina na vizinhança,
superou em muito o mercado imobiliário da região.
Segundo resultado
A MBR, em termos de comunicação social e reversão de sua
imagem pública, foi além. Simples e objetiva, ela se inspirou no recado maior
deixado pela ECO/92, de que “estamos todos, sem exceção, no mesmo barco.” Produziu e fez distribuir para toda a
população de São Sebastião das Águas Claras, distrito de Nova Lima, um mapa
artístico intitulado “A Grande Bacia de Macacos”, com uma missão nobre e
inclusiva: informar e conscientizar os seus moradores, onde nascem, correm e
precisavam ser preservadas as hoje quase 800 nascentes monitoradas do
município, por isso mesmo, o local mais verde de toda a Região Metropolitana de
Belo Horizonte.
Na carta enviada a cada morador, situando-o dentro da
sub-bacia hidrográfica local, a mineradora acresceu a informação nova sobre o
que significava o termo “Ecodesenvolvimento”, também lançado na RIO/92. Só o
título da carta, impresso no mapa, dizia tudo, sobre mineradores e minerados –
todos nós, enfim – que ainda não aprendemos a lição, vide as tragédias em Mariana
e Brumadinho, mais de duas décadas depois: “Responsabilidade na convivência
para o bem-estar de quem ocupa o mesmo espaço”. Ou seja: tudo aquilo que é
economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente mais justo, o outro
nome da sustentabilidade.
Nota da Redação
Os tempos eram outros. Mais românticos e dialogáveis, que
radicais e violentos. Os presidentes e diretores das mineradoras tinham rostos
e nomes conhecidos, não fugiam do debate. Os ambientalistas eram respeitados e
ouvidos, mais que temidos. Essa é a missão maior de resgate que, pela sua
biografia, Penido e o novo Ibram têm pela frente. Um dever contra a
demonização, em grande parte justa, do setor, que se afastou total da sua
principal garota-propaganda, por não respeitar nem saber amá-la: a natureza que
nos resta e sustenta.