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O NOVO TEATRO: recuperado por meio do Programa “Adote um Bem Cultural”, da Fundação Municipal de Cultura Foto: Drika Vianna |
Emoções extremas, justas e solidárias. Foi assim, sob o
domínio da arte de representar e com muitos atores chorando de verdade, na lua
nova de abril, a inauguração do novo Teatro Francisco Nunes, na capital
mineira. A começar pelo cenário natural escolhido: dentro do Parque MunicipalAmérico Renné Giannetti, com suas árvores centenárias e também de gala,
iluminadas para a festa. Em sua fala televisionada, o ator Odilon Esteves, da
Cia. Luna Lunera, sintetizou a importância da parceria sustentável entre a
Prefeitura de BH e a Unimed, que investiu R$ 11 milhões na recuperação do Velho
Chico Nunes:
“É coerente que uma cooperativa médica, que vive de cuidar
da saúde das pessoas, decida também cuidar de um teatro. Esse cuidado aponta
para uma visão de que para cuidar da saúde pública não basta cuidar da saúde do
indivíduo no consultório. É preciso pensar a saúde nessa maneira global, onde
existem agentes, a arte, por exemplo, que são capazes de atravessar um ser
humano e lhe sanar a alma. Isso é saúde também.”
A batuta artística maior, tal como empunhada na inauguração
do novo Cine Theatro Brasil – Vallourec no ano passado, ficou por conta do
diretor e produtor cultural Pedro Paulo Cava. E ele se superou. Ao reunir,
festejar e premiar praticamente todo o mundo artístico mineiro, desde quem fica
atrás das cortinas ou prepara os cenários - como Raul Belém Machado, in
memoriam, o homenageado da noite - até Wilma Henriques, destilando, como um bom vinho, os seus 55 anos de palco, Cava fez aquilo que os
órgãos culturais oficiais esquecem de fazer: celebrar, em vida, aqueles que
batalham, com muita dificuldade, dedicação e amor na arte de nos fazer chorar,
rir, pensar e se emocionar. E, no mínimo, fazer de nós pessoas melhores, depois
do fechar das cortinas.
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Pedro Paulo Cava Foto: Drika Vianna |
Can-can, moulin rouge, opereta, canto lírico e
popular, tango, guitarra elétrica, teatro, música erudita e boneco de pano,
nada parece ter faltado na recontagem histórico-artística do velho teatro até a
sua volta à cena cultural. Teve até a bailarina Lina Lapertosa, dançando e
interpretando “Beatriz”, de Edu Lobo e Chico Buarque, ao som de um piano de
cauda. Um Júlio Varela, cuja história se confunde com o Chico Nunes, subindo
cautelosamente ao palco. E um Angelo Machado, mais cauteloso ainda, se
explicando: “Na minha idade, subir mais que três degraus virou esporte
radical”.
Por falar no autor da peça “Como sobreviver a festas e
recepções com buffet escasso”, a comicidade da noite foi roubada pelo
ator Carlos Nunes. Imitando um bêbado, ele surpreendeu a plateia entrando
cambaleante pelas costas do teatro. Brincou com os convidados, inclusive com as
autoridades: “O Pedro Paulo falou que eu podia mexer com todo mundo aqui, menos
com os ocupantes importantes da primeira fila, com o risco de elas não pagarem
os nossos cachês!”
E foi dele, ao subir e ficar “sóbrio” no palco, o recado
maior e mais existencial dos artistas. Carlos Nunes interpretou o famoso texto
de autoria do general norte-americano Douglas MacArthur, sobre a ecologia de
“Ser Jovem”, escrito em 1945 (leia a seguir).
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Carlos Nunes Foto: Gláucia Rodrigues |
A ecologia de ser jovem
“A juventude não é um período da vida. Ela é um estado de
espírito, um efeito da vontade, uma qualidade da imaginação, uma intensidade
emotiva, uma vitória da coragem sobre a timidez, do gosto da aventura sobre o
amor e o conforto. Não é por termos vivido um certo número de anos que
envelhecemos. Envelhecemos porque abandonamos o nosso ideal. Os anos enrugam o
rosto; renunciar ao ideal enruga a alma. As preocupações, as dúvidas, os
temores e os desesperos são os inimigos que lentamente nos inclinam para a
terra e nos tornam pó antes da morte. E se um dia teu coração for atacado pelo
pessimismo e corroído pelo cinismo, que Deus, então, se compadeça de tua alma
de velho.
Jovem é
aquele que se admira, que se maravilha e pergunta, como a criança insaciável:
‘E depois?’ Que desafia os acontecimentos e encontra alegria no jogo da vida.
És tão jovem quanto a tua fé. Tão velho quanto a tua descrença. Tão velho
quanto o teu desânimo. Jovem não é aquele que ainda não viveu muitos anos, mas
aquele que, apesar dos anos vividos, não permite que adormeça a criança
interior. Serás jovem enquanto te conservares receptivo ao que é belo, bom,
grande. Receptivo às mensagens da natureza, do homem, do infinito.”
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Ocupantes da primeira fila: compromisso cumprido |
Aplausos mil, a festa terminou com Maria Lúcia Godoy. Como
ninguém resiste a uma serenata nem esquece JK, ela fez a plateia em peso
acompanhá-la em “Amo-te Muito”, de João Chaves, e “Oh! Minas Gerais”, do
cancioneiro popular. Coisa linda, ver o público também artista, cantando e
chorando junto no escurinho do novo teatro.
NOTAS TRISTES
As duas únicas notas tristes foram o prefeito Marcio
Lacerda, em meio a tantas autoridades ali reverenciadas, e batalhador engajado
na parceria PBH-Unimed, não ter sido chamado também ao palco para entregar uma
das tantas homenagens. E a ausência quase absoluta da imprensa que,
estranhamente, não compareceu para documentar o renascimento do velho Chico
Nunes e o talento genioso mas agregador de Pedro Paulo Cava.
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Wilma Henriques em "A Dama Desnuda": triunfal Fotos: Drika Viana |
No mais, só faltou e falta a Unimed também patrocinar uma
terceira nota, esta positiva, tal como foi a encenação de um trecho da ópera
“Viúva Alegre”, que umedeceu os olhos de muita gente: reconstruir o velho
Ribalta, o famoso bar que funcionava acoplado ao teatro, com vistas para o lago
dos Pedalinhos do Parque Municipal. Ali, onde os artistas desvestiam seus
personagens e ficavam conosco, jornalistas notívagos e boêmios irrecuperáveis,
recitando, sem maquiagem, versos de Carlos Drummond e Manuel Bandeira, imersos
no perfume real das damas-da-noite.
Parabéns, Pedro! Parabéns, Marcio! Parabéns, Unimed! Sustentado ou sustentável, o novo Chico Nunes não pode
parar!
Saiba mais:
Assista ao filme sobre a história do Teatro Francisco Nunes no nosso canal no Youtube:
www.youtube.com/revistaecologico
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Assista ao filme sobre a história do Teatro Francisco Nunes no nosso canal no Youtube:
www.youtube.com/revistaecologico
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