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Foto: Arquivo UFMG |
A Revista Ecológico
registra: não se calou ontem, na capital mineira, aos 85 anos de idade, apenas um
cientista, professor, escritor e dramaturgo brilhante. Mas um dos três ambientalistas
mais emblemáticos na história de Minas e do Brasil, o professor Ângelo Machado.
Em verdade, ao lado de Hugo Werneck e Célio Valle, seus fiéis
companheiros, muito além de lutar pela preservação do meio ambiente que nos
resta, Ângelo tinha uma outra arma infalível, quase não usada nos dias atuais:
tinha amor pela natureza. Amor pela causa, sempre munido pela ciência e pelo bom
humor.
Amava os besouros, as libélulas e as borboletas. Daí o nome da primeira
ONG ambientalista da América Latina que esses três mosqueteiros criaram juntos,
na alvorada do pensamento ecológico: Centro para a Conservação da Natureza em
Minas Gerais, cuja sede em BH era móvel: uma Kombi velha, ambulante e
guerreira.
Ângelo era como um escudeiro da natureza, “amante” da beleza e da autossustentabilidade
da obra de Deus. Tinha o coração verde, antes de vermelho.
Bastante pragmático pelo lado de cientista e como membro do Conselho
Consultivo da Revista Ecológico, ele
me sugeriu certa vez que mudássemos o nome do “Prêmio Hugo Werneck de
Sustentabilidade & Amor à
Natureza” para “& Conservação da
Natureza”. O motivo? Soaria piegas num mundo e humanidade cada vez mais sem
amor à natureza e a si mesmo.
Talvez ele estivesse certo.
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Ilustração LOR |
Como integrante do Conselho Curador da Fundação Biodiversitas,
participei das várias e últimas reuniões que ele, seriamente acometido por uma
doença degenerativa, presidia deitado e em sofrimento no sofá.
Em todas elas, além da ironia de si mesmo e de nunca reclamar, ele
deixava escapar a desilusão com o desamor demonstrado tanto pelos governos quanto
por empresas, que hoje se dizem sustentáveis. Mas se recusam a apoiar
financeiramente a fundação e sua contribuição em prol do desenvolvimento sustentável,
a exemplo de tantas outras em estado de penúria.
Ressentia-se, principalmente, de empresas hoje saudáveis e lucrativas,
que no passado tanto destruíram a natureza por ignorância e falta de educação
ambiental. E agora ainda perguntam por que têm de apoiar a causa ecológica.
Uma pena. Por causa do isolamento social imposto pelo novo coronavírus,
eu também não pude me despedir do nosso professor no seu enterro sem amigos nem
abraços. Mas me lembrei, como a natureza, de uma frase que o doutor Hugo ouviu
de uma criança maravilhada, ao ver uma borboleta voando na Pampulha. A mãe
perguntou:
- Você sabe o que ela é?
A criança respondeu:
- Sim. É uma cor que voa!
Assim como Ângelo, que deve estar ‘voando’ mais biodiversificado e
produtivo ainda, no céu da nossa esperança, tamanha ciência e amor que ele nos
ensinou.
Obrigado, mestre.
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Caro Hiram. Muito lindo e verdadeiro.Apesar de poucos encontros, nesses demonstrou muito amor nos seus próximos e na natureza.
BalasFoi encantar com outros um.lugar de mais paz e contar suas histórias de crianças, mas muito adultas
Oi Hiram, fiz algumas entrevistas com ele, sempre combativo e irônico e de uma lucidez, que às vezes custáva alcançar, só depois de muito refletir sobre o assunto! Que voe bastante agora com as borboletas e Hugo Werneck.
Balas