
Que me perdoem a presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), Michele Arroyo, o prefeito Alexandre Kalil, o governador Fernando Pimentel, a Vale (que investiu R$ 5,2 milhões) e todos os arquitetos e paisagistas responsáveis pelas obras da "nova" Praça da Liberdade, símbolo maior da capital dos mineiros.
Mais que isso. Eu os convido a chamarem seus filhos, netos e
sobrinhos – incluindo qualquer casal de idosos ou namorados – para ver se
suportam ficar com eles mais de meia hora, sem chapéu ou sombrinha, na futura
praça quase totalmente sem sombra, apartada que foi do seu antigo bucolismo.
É vero e inclemente. Nenhum de vocês, autoridades e autores
do projeto, conseguirá achar um só metro quadrado ali sem sol fervente para,
naturalmente, poder se esconder do calor cada vez mais infernal de Belo
Horizonte. Tudo porque seus paisagistas e arquitetos se esqueceram ou não
levaram em consideração em suas pranchetas a realidade hoje global das mudanças
climáticas.
Em vez do velho e ecológico manejo florestal, que seria mais
sustentável (manter as árvores condenadas e suprimi-las à medida que novas e
saudáveis árvores fossem crescendo, mantendo uma meia sombra, no mínimo, para a
população), o que eles fizeram de desecológico ali?
Exageraram matematicamente na dose, e sempre contra o verde.
Sem sensibilidade social cortaram exatas e condenadas 30 senhoras-árvores,
incluindo o romântico corredor de ciprestes-gigantes onde tantos de nós já
namoramos escondidos. E, pra compensar, vão plantar outras... 20 (dez a
menos!). Isso mesmo. E que só vão dar sombra daqui a quatro, cinco, seis anos.
Até lá, como os frequentadores vão se esconder de tamanha e
infeliz insolação, vide que as árvores mantidas também foram podadas ao
extremo, eliminando todas as suas saias? Cortaram até um terço de seus galhos e
folhas.
Que natureza, agora, vai filtrar os raios ultravioleta e
poupar as pessoas do câncer de pele e do envelhecimento precoce? Um horror
urbanístico, enfim, que, in memoriam, deve estar estarrecendo Paul Villon
(1841-1905), o famoso paisagista francês também responsável pela criação do
Parque Municipal e da Praça Raul Soares, numa época mais romântica e com clima
ameno.
Ele deve estar se perguntando no túmulo: “Como podem ter
tornado tão árida e desumana a praça que sonhei bucólica e amei sem suor nessa
'Cidade Vergel', assim descrita nos versos de Olavo Brás dos Guimarães Bilac? E
isso, justamente nessa cidade que já foi chamada de Jardim, não à toa, a 'Paris
brasileira'?"
- Pardon, pardon, monsieur Villon!
Parece que nós ainda temos medo e ódio atávicos do verde, da
vida natural. O que talvez explique a nossa atração fatal pelo excesso de cinza
do cimento e do asfalto que nos desumaniza.
- Pour l´amour social, s'il vous plaît!
No fundo, no fundo, como também diria o professor e
ambientalista Hugo Werneck, nós ainda não percebemos, não respeitamos, não
somos gratos, não amamos e muito menos sabemos o que fazer com a natureza que
Deus nos deu.
- O ódio ou a indiferença ao verde (leia-se o calor
intensificado com a falta e a supressão violenta de árvores em todo o planeta,
e não somente na nossa devastada e desvitalizada Praça da Liberdade) só se
estabelece nos espaços em que o amor natural não entra.
Por que não incluí-lo?
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