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Imagem: Gualter Naves |
Foi na
noite do último sábado de agosto. A lua crescente no céu também era uma atração
à parte nas comemorações, ao ar livre, dos 35 anos de vida do Grupo Ponto de
Partida em sua nova sede, em Barbacena (MG). Ao contar a história de luta e
resistência da trupe mineira hoje reconhecida internacionalmente, a diretora
Regina Bertola recorreu à poesia de Manoel de Barros, tão logo as luzes
voltaram após um momentâneo curto-circuito que deixou o palco às escuras. Disse
ela em sua alegria irradiante, fazendo referência ao público que “iluminou” a
escuridão com seus celulares acesos: “Nós somos assim. Se nos tirarem as luzes,
a gente convoca os vaga-lumes”.
Mal
imaginaria Regina e seus companheiros que minutos depois da apresentação do
espetáculo “Ser Minas tão Gerais”, ao lado de Milton Nascimento, sua irmã, a
atriz Lourdes Araújo, de 57 anos, se despediria do grupo que ajudou a fundar. Ela
teve um mal súbito ainda durante a encenação brilhante e morreu vítima de
aneurisma abdominal na madrugada adentro de uma Barbacena que também amanheceu
chorosa, imersa numa neblina triste.
Brincalhona
e caricata, foi Lourdes quem interpretou a “Nhá Terra” à frente do Ponto de
Partida, que homenageou a poesia ecológica de Guimarães Rosa, durante a
solenidade de entrega do “V Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor
à Natureza”, em novembro do ano passado, no Teatro Francisco Nunes, em BH. Na
ocasião, coube à atriz e mãezona do grupo a leitura do “manifesto” pela
sustentabilidade humana no planeta. É o que a Ecológico reproduz aqui,
em sua memória: “Há de se cuidar das nascentes e das águas que alimentam a
morada dos homens. Há de se pajear os peixes e os rios, os ninhos e as
florestas, as sementes e os frutos, os voos e os nascimentos, os seres
minúsculos e os oceanos. Há de se tomar posse da energia que se oferta do sol e
dos ventos. Nada pode tornar-se lixo. Tudo tem de ser reciclado, recomposto, reinventado.
Há de se plantar árvores longamente e proteger o ar para que seja apropriado
para as borboletas e os meninos”.
Em tempo: o
Grupo Ponto de Partida irá abrilhantar também a sexta edição do “Prêmio Hugo
Werneck”. A solenidade de premiação deste ano será no mesmo local, dia 10 de
novembro, a partir das 17h. E terá como homenagem especial a memória poética
ambiental de Carlos Drummond de Andrade. E a sua também, querida Lourdes, que
já deve estar fazendo arte com ele, aí no céu da nossa esperança. É o que lhe
deseja toda a equipe da Ecológico.
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